Crise no Níger, evidência da decomposição avançada

Sexta, 18 Agosto 2023 17:34

Abaixo o imperialismo da África!

No dia 26 de julho, militares sob o comando do general Abdourahmane Tiani assumiram o poder no Níger, ex-colônia francesa da região do Sahel, franja semi desértica do Saara. O presidente deposto, Mohamed Bazoum continua detido em seu domicílio e é considerado um aliado do imperialismo na região. Pesa sobre o governo militar golpista uma ameaça de intervenção militar da CEDEAO (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental), que não cumpriu seu primeiro ultimato, mas que se reunirá novamente esta semana (17 e 18 de agosto) para ajustar suas ações. Por sua vez, os militares que governam Mali e Burkina Faso saíram para respaldar os golpistas do Níger, enquanto o Chade e a União Africana se pronunciaram contra as ações armadas.

O Níger se encontra sob bloqueio da França e seus aliados regionais. Os EUA, nas palavras de seus próprios funcionários, está dividido entre defender os "princípios democráticos" (utilizados como mera propaganda em seu enfrentamento com a China e a Rússia), agindo contra o golpe, e os seus interesses geoestratégicos, negociando com os militares para poder manter as suas bases no país, estabelecidas para o combate ao terrorismo e a intervenção na Líbia. No Níger existem 1.500 soldados franceses na capital Niamey e os EUA têm cerca de mil militares em diferentes regiões do país.

As intervenções na África são uma marca da ascensão do imperialismo como fase superior e decomposta do capitalismo. A situação atual caracteriza-se pela decomposição dos Estados artificiais que buscaram estabelecer como formações políticas formalmente independentes no pós-guerra e que, no entanto, permaneceram ligadas às suas antigas metrópoles por fortes laços econômicos e militares, como é o caso do Níger, que ainda hoje usa o franco como moeda. O imperialismo só ofereceu miséria, destruição econômica e fome à África, em troca da pilhagem de sua força de trabalho (escravizada) e de seus recursos, especialmente minerais, mas também hidrocarbonetos e agropecuários. O Níger é um dos países menos industrializados e mais pobres do mundo e, por outro lado, é um dos principais fornecedores de urânio utilizado pelas usinas nucleares francesas. 

A crise atual ocorre logo depois que outros golpes de estado impuseram mudanças de regime em outros países do Sahel - Mali e Burkina Faso - nos quais soldados com discursos nacionalistas acabaram expulsando os destacamentos franceses. É claro que esses regimes são uma versão degradada das correntes do nacionalismo burguês do pós-guerra, que já mostraram seu fracasso, não apenas na África, mas também na Ásia e na América Latina. O conteúdo de sua política é negociar um lugar melhor no mercado mundial diante do evidente enfraquecimento do imperialismo francês, atingido em sua economia e pela luta de classes em seu próprio território. É por isso que o novo governo militar do Níger se apressou em estabelecer um gabinete civil para dialogar com outros países imperialistas através do Chade, assim como está recebendo funcionários dos EUA. Ainda flerta com uma aliança pró-Rússia que inclui outros países da região, que começa a ganhar forma a partir de Moscou e das diversas intervenções do grupo Wagner na região. Esta crise faz parte da situação mundial aberta pela crise de 2008, pela pandemia e pela atual guerra entre Ucrânia e Rússia. A situação da Ucrânia e do seu governo, que atua como agente dos interesses da OTAN, é também um espelho no qual se olham vários países da CEDEAO, que não vêem com bons olhos a ida para uma guerra longa, exaustiva e de desfecho incerto. Por isso, os canais diplomáticos estão abertos, embora o confronto militar também não possa ser descartado.

Os revolucionários TRCI se manifestam contra qualquer guerra fratricida entre o Níger e seus vizinhos, e pela derrota de qualquer agressão militar imperialista contra os povos coloniais e semicoloniais. Alertamos também que nenhum governo nacionalista propõe uma saída antimperialista para os povos oprimidos do continente. É a classe trabalhadora, a partir de suas organizações de classe, como os sindicatos mineiros que mostram seu poder na África do Sul, que deve se firmar como líder na luta contra os antigos e novos senhores estrangeiros. Para isso, deve impor seu programa e um governo operário, derrubando ditadores e democratas associados a esta ou aquela facção do imperialismo. Colocar a unidade internacionalista da classe trabalhadora, especialmente com o proletariado da França e dos Estados Unidos, para a retirada das tropas imperialistas do Níger e de toda a África. Convocamos as forças revolucionárias que lutam pela ditadura do proletariado a organizar uma Conferência Internacional para discutir como enfrentar a decomposição imperialista que está arrastando cada vez mais rapidamente nossa classe e toda a humanidade para a barbárie.

 

COR Chile - LOI Brasil - COR Argentina

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