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Sábado, 09 Janeiro 2021 18:49

Democracia imperialista, uma envoltura trincada

Declaração da TRQI

Democracia imperialista, uma envoltura trincada

 

O ataque ao Capitólio de Washington, sede do Congresso dos EUA, na quarta-feira, 06 de janeiro, abalou profundamente a elite que governa o mais poderoso país capitalista do planeta. A corrosão institucional que leva várias décadas, mas acelerada a partir da crise de 2008, dá um novo salto.

Os eventos de 6 de janeiro foram uma ação contrarrevolucionária, realizadas por grupos paraestatais, mas encorajadas pelo próprio chefe do Estado imperialista, Donald Trump, e com a cumplicidade da polícia e de outras forças regulares de repressão. Uma farsa da "marcha sobre Roma", que não pretendia tomar o poder em uma espécie de auto ataque, mas para operar uma demonstração de forças para demarcar o terreno para o establishment que governa a democracia imperialista, começando pela elite do próprio Partido Republicano que tinha acabado de romper com Trump ao negar-se a recusar a certificação de Biden como presidente eleito pelo mandato do colégio eleitoral. É claro que, depois de perder o segundo turno para eleger os dois senadores do estado da Geórgia e, portanto, o controle de ambas as câmaras legislativas, a ação do movimento trumpista, na quarta-feira, 06, demoliu o que restou do PR, um dos dois pilares da democracia imperialista. 

Já tínhamos comentado em nosso balanço da eleição presidencial que a alta participação eleitoral também deixou o Partido Democrata em crise, uma vez que a democracia dos EUA é projetada como um sistema de elites. A tomada do Capitólio foi uma ação direta, armas na mão, contra essa elite. E foi impulsionada a partir do movimento que levou Trump ao poder em 2016, baseado em setores menores e desclassificados e cujo antecedente era o Tea Party. Um movimento claramente reacionário, que se alimenta do fracasso do imperialismo em dar às massas uma saída diante da profundidade de sua crise histórica, que se acelerou em 2008 e se aprofundou ainda mais em 2020 com a pandemia COVID-19 e seguindo a uma nova recessão.

Mas não podemos esquecer que no ano passado um movimento de sentido oposto também entrou em cena, que põe em questão o que vimos novamente na quarta-feira: o papel das forças de repressão, particularmente a polícia, como pilares do Estado imperialista. Embora sem derrotar essas forças, o que é muito difícil sem a intervenção determinada do proletariado industrial, a relação das massas com as forças repressivas e setores de classe com o Estado, cobertos pelo fino véu da democracia imperialista, foram completamente expostas. Grupos trumpistas quebraram um pouco mais aquele invólucro da ditadura do capital que é a democracia burguesa. E agora, o problema da liderança imperialista em crise é como resolver essa questão, além das medidas disciplinares que democratas e republicanos tentarão impor para recompor essa ideia de democracia que serviu, não devemos esquecê-lo, como a ideologia por excelência para sustentar o papel dominante do imperialismo ianque no mundo, justificando todos os tipos de intervenções na América Latina e ultimamente as invasões do Iraque , Afeganistão, Líbia e Síria ou o impulso dado às ofensivas reacionárias de Israel.

As tarefas de Biden são árduas e podemos supor várias hipóteses de como pode se desenrolar tanto para os partidos imperialistas, quanto para o próprio movimento trumpista. Sem dúvida, o mais profícuo empresariado ianque que, através de suas câmaras patronais, por enquanto, é o único elemento que conseguiu disciplinar Trump dentro de uma ordem institucional muito limitada, são os que impõem a agenda. Seu objetivo é redefinir a relação capital-trabalho, aprofundando e descarregando a crise nas costas da classe trabalhadora, incluindo o desastre sanitário em que o país está imerso e as chamadas "concessões" (entenda-se dos sindicatos às empresas) para recuperar a taxa de lucro às custas das condições de trabalho e dos salários. E uma linha muito mais intervencionista na política externa, ambos os elementos colocando no centro a relação com as forças armadas e auxiliares que indicamos acima.

Devemos seguir o pulso desses desenvolvimentos, mas é certamente muito importante deixar claro que caracterizar a ação de quarta-feira por golpe ou autogolpe, ou levianamente de fascismo, além dos elementos contrarrevolucionários que compõem o trumpismo, carrega em si o erro fundamental de, sob um programa de defesa da democracia, manter o proletariado e os setores de massa que se expressaram nas ruas contra o assassinato de Floyd e outros afro-americanos, atados à liderança imperialista do Partido Democrata. Aí se cumpre o nefasto papel de Bernie Sanders e a DSA. Pelo contrário, a natureza democrática da luta levantada é seu conteúdo anti-imperialista, uma luta que devemos sustentar nas semicolônias cujos presidentes estão prontos para apoiar seu novo mestre Biden, exceto pelo grotesco caso de Bolsonaro, não pelos defensores da democracia, mas pela teimosia de capacho.

Nós, revolucionários, devemos lutar para que nos EUA o proletariado recupere seus sindicatos da liderança contrarrevolucionária de Richard Trumka e outros burocratas. A tarefa é enfrentar seu próprio Estado imperialista, apoiando a luta pela libertação nacional de trabalhadores e dos povos semicoloniais em todo o mundo. Também enfrentando as consequências das más condições de salubridade nos locais de trabalho em meio à pandemia, contra demissões, desemprego e cortes salariais e conquistas a partir de um programa de transição e, retomando as melhores tradições da classe trabalhadora americana: tomadas de fábrica, piquetes de autodefesa e greve. Estas não serão lutas puramente econômicas, pois a dinâmica colocada pela situação exige que, a partir do primeiro minuto, seja levantado o problema do armamento, de como desarmar o inimigo e o enfrentamento ao Estado burguês. Desde a TRQI, estamos lutando bravamente pela reconstrução de um Partido Revolucionário dos Trabalhadores nos EUA, que será uma das seções pilares da quarta internacional reconstruída. Insistimos na urgência de organizar uma Conferência Internacional para a Reconstrução da IV Internacional, na qual as correntes que defendem o programa da ditadura do proletariado coloquemos em marcha a gigantesca tarefa de começar a resolver a crise da nossa direção revolucionária.

 

 

COR Chile – LOI Brasil – COR Argentina

 

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