TRCI-web

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Em novembro do ano passado, um importante debate sobre condições de trabalho se impôs, superando as bolhas da internet, que foi a discussão sobre a escala 6x1, impulsionado pela deputada Erika Hilton (PSOL), que apresentou projeto de lei na câmara dos deputados.

O tema mobilizou forças políticas em todos os espectros políticos - contra e a favor - e trouxe à ordem do dia a pauta sobre as condições de trabalho, e consequentemente ataques diretos aos trabalhadores como forma de garantir os lucros da burguesia e recuperar a produtividade, em um momento de aprofundamento da crise capitalista, marcada entre outros justamente pela queda dos índices mundiais de produção.

Porém, a discussão posta com a proposta da deputada psolista se dá de forma rebaixada, localizada nos marcos do parlamento burguês e acompanhando as próprias políticas de flexibilização do patronato. O que está implícito no bojo dessa medida são: a redução de jornada com a redução de salário, lay-off, banco de horas e o arrocho salarial.

As escalas de trabalho sofrem alterações ou mudanças de ritmo e tempo de acordo com as necessidades e interesses dos capitalistas, cujo processo produtivo já emprega inúmeras jornadas de trabalho na perspectiva da divisão social do trabalho. Essas escalas são negociadas nas mesas dos burocratas sindicais, que estão há tempos afastados dos locais de trabalho, logo de suas bases e colados ao Estado, conciliando-se com patrões enquanto atuam como muro de contenção da luta de classes.

Como contraponto a essa política patronal, a política que se impõe é a da ESCALA MÓVEL DAS HORAS DE TRABALHO - em que todo o trabalho disponível, deve ser distribuído entre toda a força de trabalho disponível, sem qualquer redução salarial, e essa luta deve ser levantada não através das instituições da burguesia como o parlamento e o judiciário, mas através de nossos métodos históricos de luta, e sempre sob a luz da independência de classe.

Para isso, mais do que atos de rua isolados, é preciso que os sindicatos e centrais sindicais tomem a frente desse processo, tomando para si o protagonismo dessa luta, porém, diante da política deliberada de contenção da luta de classes, empreendida pelas direções sindicais e políticas da esquerda eleitoral, se torna urgente a necessidade de recuperação dos sindicatos dessas camarilhas que se apossaram do nosso instrumento de luta e o transformaram em seu meio de vida, desviando toda a luta histórica para as instituições burguesas, advogando que migalhas em meio aos destroços, devem ser consideradas como vitórias.

  • PELA ESCALA MÓVEL DE HORAS DE TRABALHO!
  • PELA ORGANIZAÇÃO NAS NOSSAS ESTRUTURAS, COM NOSSOS MÉTODOS HISTÓRICOS DE LUTA E INDEPENDÊNCIA DE CLASSE!

 

Uma onda de críticas abalou o mundo após as declarações de Donald Trump em 04/02, nas quais ele propôs que os EUA "assumissem o controle" da Faixa de Gaza. Essa "iniciativa" implicaria, ele deixou claro, a expulsão dos palestinos daquele território em que enfrentam, há mais de um ano, bombardeios e cercos pelas Forças de Defesa de Israel. O imperialismo propõe uma limpeza étnica definitiva como “solução final” para a guerra genocida do seu enclave israelense contra os palestinos, atualmente suspensa após uma trégua imposta aos sionistas pela resistência.

 

Não é por acaso que esta proposta desastrosa, mais um exemplo da barbárie que o decadente sistema capitalista oferece à humanidade, foi feita na primeira recepção internacional de Trump após assumir o cargo de presidente pela segunda vez. O homenageado foi justamente Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro da entidade de ocupação. Trump vem, assim, em socorro do governo sionista, que se debate com a incapacidade de encontrar uma solução não só para o conflito atual, mas também para uma crise de magnitude histórica, já que Israel é o produto de uma institucionalidade imperialista típica do equilíbrio do pós-guerra, que hoje range por todos os lados. Trump propõe, seguindo a linha de sua primeira presidência, destruir toda essa velha institucionalidade, e sua proposta para a Faixa de Gaza, mesmo que não seja viável, coloca a defesa ianque de Israel em primeiro lugar como uma premissa fundamental da pretendida nova ordem mundial.

 

Os hipócritas imperialistas que dirigem os governos europeus, assim como os fantoches de todas as cores no Oriente Médio e no resto do mundo, estão defendendo o direito internacional, rasgando as vestes contra a afronta aos direitos humanos implícita nas declarações de Trump, gritando a necessidade de manter as instituições do sistema das Nações Unidas, que eles retratam como garantidoras da paz, mas são, ao contrário, as instituições que permitiram o recente massacre em Gaza, a continuação da guerra na Ucrânia, a limpeza étnica na África e na Ásia e todas as atrocidades das potências imperialistas nos últimos anos. Governos como o do líder trabalhista britânico Christy Cooney e do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, assim como os governos da ONU e da UE, são cúmplices da expulsão do povo palestino de sua terra, que está se aproximando de seu 80º aniversário, bem como do genocídio em andamento, que agora está apenas em pausa. Os senhores democratas, liberais e conservadores, defensores das instituições capitalistas, nada têm a oferecer ao proletariado e aos povos oprimidos, exceto uma versão (na aparência) um pouco menos brutal do que a barbárie a que Trump e seu governo de multimilionários servem hoje. Uma versão que faz parte da preparação militarista dos líderes burgueses do capitalismo decadente, anunciada pela própria presidente da Comissão Europeia, von der Leyen, ao solicitar o relaxamento das regras fiscais e da dívida da UE para aumentar os orçamentos de defesa; nem deixa de ser governado pelo único eixo claro que o imperialismo tem, que é a necessidade de modificar a relação capital-trabalho a seu favor, atacando nossa classe, como vêm fazendo na Polônia, Ucrânia e outros países.

 

Como já dissemos, Trump persegue a ideia de recuperar a liderança perdida nos últimos anos e, com base em uma política agressiva no plano econômico e no poder militar, pretende recuperar a influência perdida, especialmente contra a China, em diferentes regiões para tentar impor uma nova direção — em seu declínio — para a situação mundial. Suas primeiras medidas mostraram os limites da máquina produtiva e financeira ianque, ameaçando com uma guerra tarifária contra o México e o Canadá, que teve que ser suspensa por 30 dias devido à resistência da própria burguesia imperialista, que teme que tais medidas acabem minando ainda mais a saúde já debilitada da economia americana. Entretanto, tanto o governo Trudeau, em vias de saída, quanto o governo mexicano de Sheinbaum tiveram que se subordinar e ceder ao pedido de militarização das fronteiras de seus países. Sheinbaum mostra que Trump não conta apenas com Milei, Bukele e outros presidentes capachos da América Latina; também são oferecidos os serviços de um progressismo decadente, pronto para mobilizar 10 mil tropas contra seu próprio povo para satisfazer o mestre imperialista.

 

UNIDADE INTERNACIONAL CONTRA O IMPERIALISMO

 

As reações de raiva e o enfrentamento à agressão imperialista expressa por Trump já se refletiram nas manifestações contra as deportações nos próprios Estados Unidos. Podemos esperar que os jovens de lá, assim como da Europa, assumam a luta pelo povo palestino. Essas manifestações anti-imperialistas são um alerta para a classe trabalhadora organizada e sua vanguarda, que realizou ações de solidariedade muito importantes, mas não conseguiu liderar essas expressões de luta. O proletariado tem a capacidade de enfrentar o capitalismo na sua base, impondo a paralisação da produção e seu controle para deixar a burguesia no ar e detonar os alicerces de seus Estados. Lutar contra a assimilação capitalista dos ex-Estados operários e os governos bonapartistas da Rússia e da China que buscam disputar a liderança do processo de restauração com o imperialismo, com todo o retrocesso social que isso implica. Lutando pela destruição de Israel, a entidade de ocupação sionista no Oriente Médio, e contra todos os governos burgueses da região (árabe, turco e iraniano) cúmplices do massacre do povo palestino, lutando pela Federação das Repúblicas Socialistas do Oriente Médio como forma política da ditadura do proletariado. Para realizar todas essas enormes tarefas que temos pela frente, é necessário abordar a tarefa de resolver a crise da direção revolucionária do proletariado que se mostra, mais uma vez, ser a crise da humanidade. A cada passo, a situação fornece novos elementos para convocar urgentemente uma Conferência Internacional para a reconstrução da Quarta Internacional e suas seçõe

s nacionais.

 

Diante da magnitude da crise e da aceleração dos preparativos belicistas, conscientes das consequências que isso implica para nossa classe, torna-se urgente o chamado a uma Conferência Internacional para as correntes que ainda levantam a necessidade da ditadura do proletariado.

Fazemos este chamado com o propósito de abrir um debate no interior das correntes que se reivindicam trotskistas, já que o trotskismo é a única tradição marxista que mantém viva a perspectiva da revolução socialista. É necessário dar um passo no sentido de reagrupar parte da vanguarda atrás de um programa revolucionário e poder intervir na situação internacional. Nossa corrente aspira atuar nesse processo como uma tendência de uma direção revolucionária que impulsione o desenvolvimento de uma nova geração que retome as tarefas históricas de construir o partido mundial da revolução, que nesta época é a reconstrução da IV Internacional. A construção deste partido torna-se imperiosa, num momento em que prevalecem as ideias de movimentos ou coalizões eleitorais, que depois se transformam em mediações podres e entram em crise por sua impotência para enfrentar o avanço de setores ultrarreacionários. Isso foi visto, por exemplo, no Brasil onde o PSOL apoiou Lula, no Chile com o colapso da Frente Ampla de Boric e sua aliança com o PC e correntes afins, ou o NPA da França que fez uma campanha em comum com a “França Insubmissa” de Melenchon, para dar apenas alguns exemplos.

Desde a TRQI definimos que a situação internacional se encontra numa etapa caracterizada pela decomposição do imperialismo e pelos processos de assimilação dos ex-Estados operários. Assistimos a uma aceleração dos tempos, impulsionada pela política belicista do imperialismo, na necessidade de assimilar os ex-Estados operários e abrir novos mercados em meio a uma crise na organização do capital e suas instituições, como o Estado burguês, e da sua forma de dominação, com um bonapartismo decadente.

Em 20/01/25, Donald Trump assumiu seu segundo mandato, rodeado pelo establishment financeiro e político mais concentrado do mundo e representantes políticos internacionais. O discurso que pronunciou no Capitólio levantou a ideia de recuperar a liderança perdida nos últimos anos e, com base numa política agressiva a nível econômico e no poderio militar, tem como objetivo recuperar a influência perdida – pela sua decadência – em diferentes regiões, especialmente diante da China, para tentar impor uma nova saída para a situação mundial.

Devemos discutir as tarefas dos revolucionários e a política para os setores organizados do proletariado diante da extensão no tempo da crise econômica mundial aberta em 2008. Os elementos belicistas estão se acentuando, como mostram a guerra Rússia-Ucrânia, que está desestabilizando grande parte da Europa; o genocídio na Palestina por parte do enclave de Israel, que está gerando uma crise aberta na região do Oriente Médio, como ficou demonstrado na queda de Al Assad na Síria; a guerra comercial entre EUA e China; a crise na África.

Temos de discutir qual papel deve desempenhar o proletariado dos ex-Estados operários, como o chinês, o russo e o ucraniano, para frear a guerra e derrotar a OTAN e os governos restauracionistas. Nestes Estados estamos assistindo a uma contradição histórica, na qual a burocracia contrarrevolucionária, que ainda não consegue se constituir como classe e continua buscando de forma infrutífera experimentos de acumulação, deve assumir tarefas burguesas da época imperialista, como restaurar o domínio do capital. Mas, ao mesmo tempo, o imperialismo não reconhece essa formação social como representante para essa tarefa histórica. A extensão no tempo desta anomalia é o que está levando a uma guerra, ainda encapsulada. No entanto, ao chegar a este ponto, já não seria como as outras guerras mundiais, que foram pela divisão do mercado na expansão do sistema capitalista, mas sim para assimilar os ex-Estados operários no momento de maior decadência e decomposição do imperialismo. Sustentamos que estamos num cenário novo, não só porque já não existem as condições econômicas e políticas do período de guerra mundial, mas também porque não existem as mediações partidárias ou movimentos políticos com base operária que se desenvolveram naquele período. Por isso é difícil e até estéril buscar analogias históricas, como as que dizem que estamos num momento como o anterior a 1915 ou outros. O que devemos constatar é que o imperialismo em sua decadência pode levar os trabalhadores a enfrentamentos militares e acreditamos que a dinâmica mundial está dando indícios desses preparativos. Devemos enfrentar a guerra com a revolução, guiados pela teoria da revolução permanente.

Hoje presenciamos a crise das correntes que ainda reivindicam o legado de Mandel, Moreno, Ted Grant, Lambert e outros que não conseguem dar resposta aos processos abertos. Como se viram na necessidade de se desenvolver num período que já está desaparecendo, estão se tornando obsoletos para orientar a prática revolucionária atual. Em seu momento tiveram de responder a processos históricos muito contraditórios como a política contrarrevolucionária do estalinismo (desde a autoridade da Revolução Russa e da URSS), o surgimento dos Estados de bem-estar e toda uma série de políticas imperialistas para dar concessões a setores de massas em sua competição contra o sistema soviético, etc. Ao não se desenvolver a direção revolucionária, pelo fato de que a IV Internacional não conseguiu superar o estágio germinal, terminaram desenvolvendo diferentes variantes de adaptações ao Estado e suas instituições, seja nos países imperialistas como semicoloniais. Em geral, terminaram separando economia de política e caíram em armadilhas de conciliação de classes, sustentando essa ideia como norte sem entender a dinâmica da revolução permanente onde já não estão as tendências organizadas do passado, e onde se coloca o caráter da revolução, em chave mundial e não nacional. Agora, por essa adaptação, não conseguem dar resposta à queda do Estado de bem-estar na Europa, aos processos de assimilação dos ex-Estados operários, à decomposição imperialista e aos desafios da luta de classes. Ainda assim, nossa corrente continua viva como continuidade do marxismo revolucionário. Isso impõe recuperar o método que nos ensinaram os grandes revolucionários do passado, para completar a tarefa de desenvolver a luta pelo socialismo nas condições atuais. Precisamos de uma Internacional, que para nós é a IV Internacional, que ordene os debates e defina as tarefas em todas as seções nacionais, unificando a luta dos batalhões do proletariado que se destacam em todo o mundo.

Fazemos este chamado para que comecemos a abordar esta tarefa histórica, para resolver a crise da humanidade, que é a crise de direção revolucionária do proletariado.

 

 

Quinta, 23 Janeiro 2025 21:14

A era da decomposição continua...

Em 20 de janeiro de 2025, Donald Trump assumiu seu segundo mandato, cercado pelo establishment financeiro e político de maior concentração do mundo e por representantes políticos internacionais. O discurso que proferiu no Capitólio levantou a ideia de recuperar a liderança perdida nos últimos anos e, com base numa política econômica agressiva e no poder militar, coloca como objetivo recuperar a influência perdida, especialmente frente à China, em diferentes regiões para tentar impor uma nova rota de fuga – em sua decadência – para a situação mundial.

 

O imperialismo ianque sempre se caracterizou por exportar as suas crises, mas agora todas as contradições da situação mundial atingem suas fronteiras adentro. Isto torna cada política imperialista proposta historicamente frágil, devido à própria perda da hegemonia mundial.

 

Os processos históricos têm demonstrado, desde o início da fase imperialista, que nenhuma política pode ser imposta de forma pacífica, razão pela qual a linha bélica levada a cabo pelo governo que se encerrou de Biden continuará com Trump, com outros objetivos. A nova administração tem como foco a retomada da guerra comercial com a China e busca reverter a desindustrialização no território norteamericano. Trump apostará na revitalização da indústria petrolífera para baratear a energia no mercado interno e desenvolver uma concorrência agressiva com a indústria petrolífera do Oriente Médio, procurando alinhar centralmente a Arábia Saudita. É por isso que propõe acabar com os conflitos na Faixa de Gaza e Cisjordânia e na Ucrânia, revivendo os “Acordos de Abraão”, disciplinando o Líbano e a Síria, isolando o Irã, para se concentrar no confronto com a China e no fortalecimento da economia interna.

 

O discurso proferido teve um tom protecionista e nacionalista reacionário, invocando um suposto “senso comum”, que implica a supremacia branca das eras douradas do século XX. A linha protecionista já gerou desvalorizações em alguns países semicoloniais, como o Brasil, e não podemos descartar que, no futuro, mais crises da dívida serão provocadas em vários países. Ele também esboçou uma política migratória que, inicialmente, propunha expulsar, antes da vitória eleitoral, 10 milhões de imigrantes, mas que agora seria de apenas 1 milhão, refletindo a composição da classe trabalhadora norteamericana, que tem um forte elemento imigrante; além disso, também propõe disciplinar fortemente a um proletariado que se vem organizando em alguns ramos. É uma linha de divisão acentuada em relação à classe trabalhadora, para unir uma base social para a sua orientação. Não podemos subestimar as declarações de Trump, mas também não podemos tomá-las como uma linha coerente de um imperialismo senil, uma vez que o discurso apelou a uma certa nostalgia do que nunca foi e de que nunca será. Recuperar a Groenlândia, recuperar o controle do Canal do Panamá, anexar províncias do Canadá e do México são objetivos que, se seriamente tentados, provocariam conflitos, aprofundando as crises dos regimes bonapartistas e, possivelmente, abrindo fenômenos anti-imperialistas. Esta linha de expansionismo imperialista aumenta a pressão sobre o imperialismo europeu, aprofundando a sua crise interna; confrontos que, mais acirrados, empurrariam para uma terceira guerra mundial, para a qual, por enquanto, não conta com uma base social.

 

Este segundo mandato de Trump baseia-se no fracasso do governo Biden e tentará buscar uma unidade imperialista, para a qual conta com a burocracia sindical como seu principal aliado - fato recentemente evidenciado pela burocracia portuária que suspendeu as medidas de luta para que os fornecimentos militares pudessem navegar em nome da “segurança nacional”, com a cumplicidade do Partido Democrata, em uma crise fenomenal. Contudo, da palavra à ação há quilômetros de diferença. A política do discurso inaugural nega uma situação internacional totalmente instável, de crise econômica desde 2008 sem solução e com processos de luta de classes e guerras de difícil resolução.

 

Neste cenário, o proletariado norteamericano tem uma tarefa histórica de enfrentar o governo imperialista de Trump, frear a política migratória reacionária, romper com o PD e os seus satélites como o DSA, expulsar a burocracia pró-imperialista, desenvolver o incipiente processo de sindicalização de muitos setores novos, com independência de classe. A derrota da burocracia sindical permitirá à classe trabalhadora internacional avançar na sua unidade com a resistência palestina, com os trabalhadores da Rússia e da Ucrânia para que lutem contra a assimilação capitalista dos ex-Estados Operários e com o proletariado dos países oprimidos pela imperialismo ianque. 

 

Pela derrota do imperialismo! Pela reconstrução da IV Internacional, partido mundial da revolução!

 

 

No domingo, 19/01/25, as condições do acordo de cessar-fogo alcançado no Catar começaram a vigorar, após meses de negociações fracassadas, que consiste em três seções: entrega de reféns e libertação de detidos; retirada do exército israelense e reconstrução da Faixa de Gaza após os bombardeios.

Este acordo está por um fio, pois Netanyahu deixou claro que a qualquer momento o exército israelense pode continuar o genocídio sob qualquer desculpa. De fato, já está apontando a Cisjordânia como objetivo de novos ataques. Mesmo assim, o cessar-fogo foi celebrado pelo povo palestino, demonstrando mais uma vez a resistência histórica de um povo que luta contra a usurpação do seu território pelo enclave imperialista israelense. A trégua faz parte de uma política imperialista, tanto da administração Biden que se encerra, bem como da administração Trump que se inicia, para que não eclodam confrontos na região após as revoltas e a derrubada de Al Assad na Síria. Isto faz parte de uma política de guerra mais geral do imperialismo norte-americano, que está desenvolvendo uma guerra “por procuração” através da OTAN na frente ucraniana, para fechar frentes e concentrar forças num eventual enfrentamento mais direto com a China e os seus aliados. Faz parte do processo de assimilação dos ex-Estados operários liderados pelo imperialismo num momento de maior decomposição.

Outro elemento que o acordo Israel-Hamas mostra é a crise do regime governado por Netanyahu e as tendências incipientes para o surgimento de setores rebeldes fora da liderança burguesa do Hamas e da Autoridade Palestina, como se viu nos campos de refugiados em Jenin. Isto forçou a aceleração do acordo devido à fragilidade das direções em conflito. Por esta razão, sempre propusemos que a saída revolucionária para esta situação seja internacional. Para que a resistência palestina se desenvolva para expulsar o enclave de Israel do Médio Oriente, o proletariado internacional tem de agir com os seus próprios métodos, impedindo o fornecimento militar do imperialismo à Israel, enfrentando os governos que apoiam o enclave sionista em todo o mundo e, juntamente com o proletariado árabe, concentrado principalmente nas indústrias petrolíferas, abrem um processo revolucionário que culmina na Federação das Repúblicas Socialistas do Oriente Médio e do Magrebe. Nas atuais condições históricas, já não há possibilidade de soluções através da diplomacia burguesa como a proposta de “dois Estados”, nem soluções escalonadas como “uma Palestina secular, autodeterminada e democrática”, a dinâmica da decadência imperialista impõe-nos uma solução que implica retomar as experiências mais avançadas do século XX a partir das Federações Soviéticas dadas pela Revolução Russa, como expressão estatal da ditadura do proletariado internacional. Retomar as bandeiras do anti-imperialismo e não ter qualquer confiança nos bonapartismos sui-generis dos países árabes, que traíram a luta palestina e se subordinaram ao imperialismo, é uma tarefa central de uma liderança revolucionária. A elevação do programa da IV Internacional fornecerá diretrizes para a formação de uma organização com estas características.

 

 

 

 

 

 

 

A posse para um novo mandato presidencial em 10 de janeiro na Venezuela tornou-se mais um marco no avanço da decomposição política e social do país. O resultado das eleições de 26 de julho, eleições que inicialmente foram produto de um acordo entre Maduro e o chavismo, por um lado, e o imperialismo e a oposição burguesa, por outro, terminou com o fracasso do acordo e com ambos os lados proclamando-se vencedores. Maduro avança na repressão à oposição e até prende estrangeiros classificados como terroristas internacionais, incluindo o oficial das forças de segurança argentino Gallo. 

A oposição, por seu lado, realizou um giro com o, segundo eles, "presidente eleito" González Urrutia pelos poucos países da região cujos governos o reconhecem taxativamente como vencedor: Argentina, Uruguai, Panamá, República Dominicana e, claro, os Estados Unidos. A maioria dos governos, principalmente do Brasil, Colômbia e México, buscam mediar para que as negociações entre os dois lados, que agora estão rompidas, possam ser retomadas.

Longe de discursos abstratos sobre a qualidade da democracia burguesa Venezuelana, o que está em jogo é a relação entre a sub-burguesias latinoamericanas e o imperialismo, e no caso da Venezuela, especificamente em relação ao controle e exploração do petróleo. A crise em que o semi-Estado venezuelano está imerso, baseia-se no fracasso retumbante do projeto de nacionalismo burguês encarnado em Chávez e seu "socialismo do século XXI", que acabou liquidando a PDVSA e destruindo as capacidades de exploração e extração de hidrocarbonetos. 

A ligeira recuperação produtiva dos últimos anos foi resultado do precário acordo alcançado com o governo Biden, que precisava de novas fontes de energia frente à guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Mesmo o arranjo que foi a base das eleições de julho do ano passado, pode ser entendido como parte dessas necessidades do imperialismo. Mas a situação se modificou, tanto no terreno da guerra quanto pelo triunfo de Trump, que passou, de forma rápida, de um discurso de "pacificação" para uma retórica (bastante delirante, aliás) de expansionismo imperial sobre o Canadá, a Groenlândia e o Canal do Panamá.

A forma especial de poder estatal nas semi-colônias foi caracterizada por Trotsky como bonapartismo sui generis, também uma semi-democracia semi-bonapartista, uma forma de dominação determinada pela debilidade relativa da burguesia "nacional" do ponto de vista estrutural (ou seja, em sua relação com a produção) frente ao imperialismo e à classe operária nativa. Este conceito, embora seja necessário atualizá-lo dado o avanço da penetração imperialista, continua sendo útil para os revolucionários compreenderem a dinâmica da situação na América Latina. O papel que as Forças Armadas estão adquirindo hoje na Venezuela, tanto como principal instrumento de dominação de Maduro, quanto como em seu caráter de principal objeto da política de pressão do imperialismo para tentar quebrá-las, pode ser plenamente compreendido a partir dessa categoria da teoria política marxista.

Porém, o mais trágico é o papel de subordinação do movimento operário, especialmente de seu núcleo industrial, um papel que é o produto da política de conciliação de classes das direções dos sindicatos, muitos deles dirigidos em seu momento pelo centrismo trotskista. As responsabilidades dessa tragédia tornam-se mais claras com o passar do tempo: o chamado ao voto em Chávez do Partido Obrero/Política Obrera (na época eram a mesma organização), as vacilações da FT-QI (PTS da Argentina, MRT do Brasil, PTR do Chile), as concessões da LIT-QI (PSTU no Brasil e na Argentina, MIT no Chile) e a ITU-QI (IS na Argentina, CST no Brasil, MST no Chile) à oposição antichavista e diretamente a passagem para as fileiras da burguesia do MST argentino (hoje na LIS, junto com a Revolução Socialista/PSOL do Brasil) ao ingressarem no partido PSUV de Chávez, hoje mostram todas as suas consequências. Resolver a crise da direção revolucionária do proletariado se apresenta como uma necessidade histórica e implica a luta contra as correntes reformistas e centristas que dirigem as organizações sindicais. Para isso, é necessário reagrupar a vanguarda de nossa classe com base em um programa de transição, que proponha uma saída operária para a crise. Não só na Venezuela, mas em todos os países da região e nos Estados Unidos, onde a burguesia tentará enganar os trabalhadores com falsos discursos como a suposta luta pela democracia contra a ditadura de Maduro ou, por outro lado, pela defesa de Maduro e das burguesias nacionais contra "a direita" e os ianques. Uma Conferência Internacional das correntes que ainda defendem o programa da ditadura do proletariado, com o objetivo de discutir o método, o programa e a política para reconstruir a Quarta Internacional, o Partido Mundial da Revolução Socialista, é uma iniciativa que temos levantado a partir TRQI para avançar nos desafios de nossa época de aceleração da decomposição imperialista.

 

Fora as mãos imperialistas da Venezuela!

Controle operário da indústria petrolífera!

Por um governo operário!

Por uma federação de repúblicas socialistas da América Latina!

Pela reconstrução da Quarta Internacional e suas seções latino-americanas!

 

Terça, 07 Janeiro 2025 22:00

Aparición con vida de Julia Chuñil

El gobierno de Boric también es responsable

El pasado 8 de noviembre Julia Chuñil “desapareció” en las inmediaciones de su casa en un terreno disputado por el empresario forestal Juan Carlos Morstadt Anwandter, quien ya tenía antecedentes de hostigamiento hacia las comunidades mapuches con el respaldo de las instituciones estatales.

Esta desaparición es parte de la política llevada a cabo por el gobierno del PC-FA, quien ha profundizado notoriamente la política de represión y resguardo de la propiedad privada, como continuidad de las políticas aplicadas por los gobiernos de la derecha y la concertación.

La militarización de la zona sur se ha vuelto permanente, así como la persecución, criminalización y represión de las organizaciones mapuches. La ley de “gatillo fácil” Naim-Retamal, ha habilitado a los agentes de represión a que puedan desenfundar, apuntar y disparar en completa impunidad. La misma impunidad que este gobierno otorgó a los altos mandos de carabineros instigadores de los asesinatos, torturas y mutilaciones durante el “estallido”. La ley “antitoma” también ha sido una herramienta que permitió desalojar, y mantiene en vilo, a cientos de familias privadas del derecho a la vivienda. Con esta misma ley (junto con la de infraestructura crítica) se le otorga manga ancha a los represores para intervenir en las tomas de terrenos, edificios, escuelas, fábricas, hospitales, etc, para intentar desarticular métodos de lucha histórica de nuestra clase.

Hoy, Boric y distintos personeros oficialistas, se ven forzados a hablar de la desaparición de Julia, pretendiendo posar con un perfil democrático de “defensa de los derechos humanos”. Un cinismo de alto calibre para un gobierno que aplicó la pinochetista ley de seguridad interior del estado contra dirigentes de la CAM, en concomitancia con el aparato judicial estatal, otorgando sin pruebas de acusación, más que la persecución ideológica, condenas equivalentes a cadena perpetua. Podríamos sumar el hostigamiento y represión sistemática contra el movimiento estudiantil, la represión a distintas luchas de la clase obrera, o la persecución criminalización y represión de los sectores en lucha (marcha del 11S, conmemoración del 18-O, redada en Villa Francia, etc).

En un proceso acelerado de descomposición del capitalismo a nivel mundial, el semiestado chileno manifiesta su crisis profundizando su deriva represiva, mientras intenta sin éxito encauzar en la institucionalidad de los parlamentos, del aparato judicial descompuesto y los pasillos ministeriales el malestar social.

El gobierno bonapartista pequeñoburgués, regentea la dictadura del capital, intentando saldar la crisis de dominación imperialista, atando al país con dobles cadenas. Su política represiva brinda amplias facultades a los hacendados y diversos sectores capitalistas a incursionar en la creación de grupos paramilitares o elementos lumpen a su servicio.

Exijamos la Aparición con Vida de Julia Chuñil

Libertad y desprocesamiento de los presos por luchar

Terça, 10 Dezembro 2024 20:46

Al Assad é derrubado na Síria

 

 

Assistimos à derrubada de Al Assad na Síria, depois de 50 anos desse clã no poder e tendo afogado em sangue as insurreições espontâneas de 2011. Foi derrubado em um cenário mundial que combina a crise mundial aberta com a política belicista do imperialismo em sua decadência. 

 

A tomada do poder pela milícia islâmica Hayat Tahrir al Sham (HTS), juntamente com o Exército Nacional Sírio, com o apoio da Turquia, deve ser analisada como um movimento no tabuleiro das guerras atuais, como uma derrota para a Rússia em suas áreas de influência, para buscar forçar uma negociação para a guerra com a Ucrânia, em condições desfavoráveis para isso.

 

O Estado sírio está em claro declínio, com grande parte de seu território convertido em mini-Estados territoriais controlados por diferentes grupos armados de diferentes facções religiosas, que respondem às diferentes potências imperialistas que influenciam a região.

 

A queda de Al Assad nos obriga a pensar sobre como será estabelecida uma nova relação de forças por parte dos Estados Unidos e da Rússia na área, considerando que os EUA têm batalhões militares que trabalham ao lado das milícias curdas do YPG e que a Rússia tem bases navais e aéreas na região. Este conflito, obviamente, faz parte de um conflito mais geral, aberto pelo genocídio do enclave de Israel contra o povo palestino e seu avanço em toda a região. Embora estejam atualmente em trégua com o Líbano, nada está resolvido, pelo contrário, a tendência é que o confronto se intensifique ainda mais.

 

As milícias que tomaram o poder na Síria são a direção decomposta de variantes dos nacionalismos árabes, que há muito tempo se venderam ao imperialismo e seu representante na região que é o enclave de Israel. Os sionistas estão avançando em novas áreas das Colinas de Golã não apenas para aproveitar a desordem da decomposição da Síria, mas como medida preventiva diante de um verdadeiro processo real de luta contra Al Assad no qual essas direções estão apoiadas. É por isso que a tarefa dos revolucionários é buscar unificar as lutas genuínas para enfrentar o assassino Al Assad com a resistência palestina em Gaza e derrotar o enclave israelense, o que significaria a derrota do imperialismo e seus aliados no Oriente Médio. Temos que unificar as forças do proletariado do Oriente Médio com os trabalhadores da Ucrânia e da Rússia para travar uma guerra revolucionária contra suas burocracias restauracionistas e derrotar a OTAN.

 

A luta por uma federação de repúblicas socialistas no Oriente Médio, como expressão da forma estatal da ditadura do proletariado, é a saída para destruir os Estados falidos, formados depois da pós-guerra.

 

COR Chile - LOI Brasil - COR Argentina 

 

 

Cúpula dos Brics, eleição de Donald Trump, eleições municipais, atentado a bomba contra o STF (Supremo Tribunal de Justiça) e um plano orquestrado pelo alto escalão do governo Bolsonaro para matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. Esse é o pano de fundo que antecedeu e perpassou a reunião do G20 chefiada pelo Brasil no Rio de Janeiro e a visita de Estado de Xi Jinping. A política internacional, há tempos, tem servido ao atual governo para ofuscar a permanente crise interna que vive o país. Mais uma vez Lula desfilou com líderes mundiais a fim de se cacifar como grande líder regional e do denominado “Sul global”, mas as abstrações (Combate à pobreza, mudanças climáticas, reforma do conselho de segurança da ONU e a busca da paz) do documento assinado na cúpula dá conta que a realidade concreta seguirá sem mudanças, as tendências abertas pelas guerras em curso e o agravamento das economias dos Estado, do imperialismo às semicolônias, seguirão ampliando a instabilidade política do governos de turno e aprofundando a crise social, isto é, as condições objetivas de vida dos trabalhadores.  

Na eleição norte-americana, Lula defendeu abertamente o voto em Kamala Harris. Com a vitória de Trump, a frente ampla se vê tateando para mensurar o impacto político da mudança na Casa Branca. Lula já declarou que nada vai atrapalhar a sólida relação entre Brasil e EUA, que diferenças devem ser postas de lado, que se trata de uma relação entre Estados e os ritos devem prevalecer, ou seja, o Brasil seguirá cumprindo seu o papel subserviente ao imperialismo. Contudo, a política econômica construída a partir do MAGA (Make America Great Again) pautada pelo protecionismo e pelo endurecimento da disputa pela recuperação da hegemonia mundial dos EUA acende um alerta nas semicolônias, sobretudo, quanto a dinâmica de valorização do dólar e da alta inflacionária, fora a dimensão do impacto do aumento de taxas de importação sobre as semicolônias.

Já há setores reformistas alardeando a assinatura de 37 acordos bilaterais com China com uma resposta do governo à ascensão de Trump, um giro estratégico. Após a cúpula do G20, Xi esteve em Brasília, para uma visita de Estado, com status de histórica. Apesar dos inúmeros acordos em diversas áreas, do Agro à tecnologia espacial, a discussão de fundo era a adesão do Brasil à iniciativa do Cinturão e Rota, que oficialmente não aconteceu. Todavia, a China consolida cada vez mais sua presença na América do Sul e o Brasil precisa se equilibrar na sua relação de semicolônia com o imperialismo.

A crise venezuelana intensifica a instabilidade política na América do Sul. O regime de Maduro endureceu o discurso com o governo Lula desde o veto que o Brasil impôs à entrada do Venezuela nos Brics, na recente cúpula do grupo na Rússia. O governo brasileiro se mostra encalacrado na questão venezuelana, já que Maduro endureceu de vez o regime, tendo aberto uma campanha de hostilidades ao Itamaraty, o qual leva a questão em banho-maria e o governo oscila entre levar a cabo a política do Imperialismo sem abrir crise com o PT e uma certa base eleitoral, defensores históricos do chavismo.  A crise amplia-se, ainda, com o conflito intestino entre Evo e Arce na Bolívia. Os processos eleitorais em curso expressam o declínio da democracia burguesa que cada vez mais revela seus limites diante da dinâmica depressiva da economia mundial, ampliando a tendência de governos cada vez mais débeis e instáveis nos bonapartismo suigeneris.

Isso se evidencia após as mais encarniçadas eleições municipais deste país, em que tivemos o triunfo acachapante do exacerbado fisiologismo do centrão. As emendas parlamentares irrigaram os municípios que reelegeram boa parte dos prefeitos. Os expoentes desse resultado foram principalmente o PSD de Kassab e o MDB de Temer. A vitória da política fisiologista robustecida em função da debilidade política dos governos nos últimos anos, somado a maior abstenção da história, quase 30% em São Paulo, por exemplo, condensa-se na crise dos partidos tradicionais e das instituições do regime democrático burguês. Guilherme Boulos (PSOL), principal candidato de Lula em São Paulo, teve uma derrota fragorosa para Ricardo Nunes (MDB), perdeu em quase todas as zonas periféricas, historicamente comandadas pelo PT.

As eleições alçam Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo, como o grande maestro do centrão, e depositam no colo do PT e de Bolsonarismo uma crise que lhes impõem o estado permanente de campanha, antecipando o processo eleitoral de 2026. O PT e todo o reformismo se vê tendo que se remontar, uma vez que sai a cada pleito mais frágil e descolado de qualquer base social que pudesse lhe dar alguma sustentação. Fato é que o PT se encaminha a passos largos para ampliar ainda mais os conchavos com o centrão e a Frente Ampla, aguardemos a reforma ministerial que ocorrerá no fim do ano, cogita-se o nome de Lira para um ministério e já se discute nos bastidores o vice na chapa de Lula fora do PSB. Já o bolsonarismo também não desempenhou o que se esperava, ampliou-se os nomes (Marçal, Tarcísio, Ratinho Jr.) que podem ocupar o posto de Bolsonaro, que a cada nova investida da polícia federal e do STF, se vê mais próximo da prisão, sobretudo, após o desenrolar das investigações acerca do fato de que houve no alto escalão do governo de Jair Bolsonaro com as forças armadas um plano para matar Lula, Alckmin e Moraes, e promover um golpe de estado. Não à toa a dita “extrema direita” mexe os paus para mostrar-se para além de Bolsonaro, sem abrir mão do bolsonarismo, assim como Kassab e seus comandados tentam construir nomes que se mostrem para além dos extremos.

A crise entre os poderes não se fecha com a tentativa de disciplinamento pelo STF da disputa pelo orçamento federal que está posta com as emendas parlamentares, pilar do fisiologismo do centrão. O Supremo desde quando, em 2023, julgou inconstitucional o denominado “orçamento secreto”, vem agindo para pôr um freio na manobra parlamentar. Recentemente, o ministro Flávio Dino bloqueou as emendas pix condicionando maior transparência e rastreabilidade sobre os recursos. Hoje quase metade do orçamento está nas mãos de deputados e senadores, o que explica o desempenho do centrão nas eleições municipais e o que pode significar nas próximas eleições gerais. Há pouco, o congresso aprovou um Projeto de lei que tenta fechar um acordo entre o executivo e o legislativo sobre esses recursos, sobretudo quando se discute a necessidade de corte de gastos para cumprimento do arcabouço fiscal.

Após recesso oficioso do Congresso Nacional durante as eleições, os “trabalhos” foram retomados com intensa negociação pela definição dos nomes que disputarão as presidências da Câmara e do Senado ano que vem. Nesse ínterim, Lula definiu o nome, laureado pelo mercado financeiro, de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central. É uma tentativa de incidir sobre a política de juros do BC, já que Galípolo foi braço direito de Haddad na fazenda e indicação do próprio Lula para a diretoria do banco. Oriundo do mercado financeiro dá todos os sinais de que seguirá a política de juros sedimentada por Campos Neto para garantir aos rentistas e bancos uma lucratividade recorde. Concretamente a política econômica do governo vende a ideia de que juros baixos fomenta a produção via consumo e crédito, de um lado atende a demanda da fração burguesa industrial em crise histórica, mas de outro reforça a necessidade de o governo aquecer a economia para se cacifar às eleições gerais, mais uma vez a política de fundo não visa outro coisa que o voto do eleitor.

Ocorre que a equação não se fecha quando olhamos para os dados da economia, que vem apresentando resultados e índices positivos no que tange à macroeconomia. O mais recente dá conta da menor taxa de desemprego desde 2013, chegando a 6,4%. Tais dados dizem respeito apenas às expectativas de desempenho econômico do mercado financeiro dominado pelo capital monopolista, não repercutindo diretamente sobre as condições de vida dos trabalhadores, que vivem com salários cada vez mais defasados, em condições de trabalho precarizadas e endividados, o que explica o recente dado do IBGE de que a quantidade de favelas no Brasil cresceu 8% em dez anos, são 17 milhões de pessoas vivendo em favelas, grande parte abaixo da linha da pobreza. O que se põe em relação direta com o fato de a Frente Ampla patinar e a força do centrão nessas regiões periféricas.

O governo burguês de Lula/Alckmin atende aos interesses do imperialismo e do capital monopolista e às frações da semiburguesia nacional. Diante do aprofundamento da crise social, o debate da vez relaciona-se à publicação das metas de corte de gastos em função do encaixe das contas públicas ao arcabouço fiscal para conter o crescente endividamento do Estado. Analistas burgueses apontam uma demanda de corte na casa de 58 bilhões de reais para estabilizar a dívida até o fim do governo. As tendências econômicas gerais do cenário internacional, crise na produção, inflação e juros altos, dão conta de que a dívida pública nas semicolônias tendem a crescer.

No fim de novembro, o governo finalmente apresentou o pacote de corte de gastos de até 70 bilhões de reais para 2025 e 2026, em que mexe na estrutura de financiamento para os próximos anos de programas sociais (Política de reajuste do salário-mínimo, do BPC, Bolsa família), além da Educação. O contrapeso se justificaria com as alterações sobre regalias da aposentadoria dos militares, contudo o impacto não passa de 1 bilhão de reais até 2030. Todavia, não se mexeu nos incentivos fiscais às empresas de todo tipo, recursos que fecham o ano em 500 bilhões de reais, a mesma coisa quanto às emendas parlamentares.

Sabendo do impacto político negativo, foi antecipada também a Reforma da Renda, que aumenta para 5 mil reais o limite de isenção do imposto de renda e propõe um aumento de alíquotas para as altas rendas, isso caiu como uma bomba e mexeu com o “humor” no mercado financeiro, que promoveu uma alta recorde do dólar, ultrapassando 6 reais. Justificativa é que o pacote não vai ser capaz de conter o ritmo de crescimento da dívida, contudo é mais do que sabido que o capital devora partes consideráveis das forças produtivas, destruindo-as, no período imperialista há que se exportar capital para alimentar a especulação voraz e improdutiva, posto que, os ajustes fiscais são levados a cabo pelos governos de turno para pagar os juros da dívida externa e, efetuar novos empréstimos alimentando a máquina destrutiva que é o capital.  Fato é que o governo burguês da Frente Ampla precisa atender aos cortes de impostos e tributos dos grandes monopólios do capital, na busca do realinhamento das expectativas do mercado financeiro.

Todo esse roteiro escancara a situação política de um governo cada vez mais nas cordas frente a sanha especulativa do rentismo, a pressão interna pela redução do Estado a título de maior eficiência. Contudo, a deterioração da política de apelo social contribui ainda mais para um conjuntura de acirramento da luta de classes, que avança a cada período. Esse é o ponto que deve ser posto nesse debate, pois o discurso é de que deve-se equilibrar os gastos para pode garantir os serviços e os tais benefícios sociais, contudo, a realidade é o avanço da miséria e o avanço dos ataques aos direitos e à condição de vida dos trabalhadores, não deixando dúvidas sobre qual é o real papel desse governo.

Nisso, as instituições, mesmo com toda a crise política em que estão metidas, se unificam para avançar com o plano de corte de direitos via Reforma administrativa, que já ocorre nos municípios e estados. Fora a permanente mobilização para avançar com as regulamentações da Reforma Tributária e a aprovação do pacote do corte de gastos. As pelejas políticas, expressam os limites que a Frente Ampla tem para governar, expressa a crise institucional da democracia burguesa que se aprofunda nos bonapartismos sui generis. Evidenciam como as várias frações burguesas disputam e se unificam sobre as pautas centrais, sobretudo, as econômicas.

Semanas atrás, o STF julgou constitucional a mudança no regime de contratação dos servidores públicos, os novos trabalhadores poderão ser contratados via CLT, o que rompe com a estabilidade dos servidores. Esse é um exemplo de que a Reforma administrativa vem sendo regulamenta a conta-gotas e na surdina com a conivência e silêncio das direções políticas e burocracias sindicais que há tempos estão mais preocupados com eleições do que em avançar com uma política que coloque a classe num ascenso contra os ataques da Frente ampla Lula/Alckmin.

Isso está demonstrado no papel que as direções políticas da classe cumpriram nas eleições municipais passadas, tanto o reformismo, quanto o centrismo estiveram metido até pescoço nas eleições, elemento central da decomposição da democracia burguesa. A eleição de São Paulo, além de diversos outros municípios, contou com as candidaturas do centrismo, com candidatos a prefeito e a vereador do PSTU e o MRT, que se utilizando da filiação democrática da legenda do PSTU, lançou sua “bancada comunista”. Tiveram de conjunto um desempenho pífio, não ultrapassando barreira 5 mil votos.

Para justificar essa política, lançam mão de todo tipo de revisionismo e de adaptação ao regime, contudo, há que se convir que há no mínimo uma coerência dada a inveterada defesa que fazem da democracia burguesa frente ao “ascenso do fascismo” via a dita extrema-direita. Para esses setores a luta de classe se dá nos marcos das instituições burguesas, o parlamento e o judiciário. Evocam o princípio da independência de classe para atuar através de um “programa revolucionário e socialista” por dentro das estruturas do Estado burguês, nada revela mais o nível de adaptação ao regime. Justificam a utilização dessa tática como propaganda, mas a principal demanda apresentada é uma reivindicação nos marcos de um estatismo, abrem mão do caráter de classe do Estado, para propagandear um engodo aos trabalhadores. A verdade é que as eleições são a expressão maior do controle burguês sobre o ascenso da consciência de classe, é inconcebível o grau de desvio e o atraso desses setores dos métodos de luta e organização próprios dos trabalhadores. Uma reflexão cabe fazermos quando aqueles que deveriam estar nas trincheiras da luta de classes, estão em praça pública pedindo voto naqueles que serão os próximos administradores do Estado para a burguesia.

É nesse aparato em declínio que as burocracias sindicais conduzem as lutas dos trabalhadores. Durante todo o período, estiveram recuados e também em campanha eleitoral, enquanto isso os governos de turno avançavam com as reformas e as privatizações, passadas as eleições prefeitos e governadores promoveram uma enxurrada de medidas privatizantes, sobretudo na educação. Diante desse cenário, é fundamental a defesa da independência de classe como elemento central para a construção de políticas e definição de ações dos trabalhadores.

É fundamental, portanto,  erguer em cada sindicato e organização estudantil uma oposição revolucionária, que avance com uma política de recuperação dos nossos instrumentos de organização das mãos das burocracias e exijam dos sindicatos e centrais a construção de uma saída operária da crise e de enfrentamento aos ataques; que coloque abaixo as Reformas Trabalhista, Previdenciária, Administrativa, do Ensino Médio, além do projeto das Escolas Cívico-militares em curso; que levante a luta pela escala móvel de horas e salários e a necessidade de expropriação dos expropriadores. É necessário também que, a partir de nossas estruturas, organizemos a autodefesa contra os ataques protofascistas da pequena burguesia bolsonarista e, principalmente, contra o braço armado do estado burguês.

A política para os trabalhadores não pode ser definida pelas disputas eleitorais, com a aquisição de bancadas nos parlamentos, e consequente disputa pela administração do estado burguês, alimentando a ilusão no aparato estatal, como se pudesse ser preenchido com determinado conteúdo de classe. Os ataques da burguesia contra o conjunto dos trabalhadores estarão na ordem do dia, independentemente dos governos de turno. A tarefa central para a classe trabalhadora só pode passar pela necessidade de construção do partido revolucionário que dirija a derrubada do estado burguês e imponha a nossa ditadura de classe.

Sexta, 22 Novembro 2024 15:37

BALANÇO DO 33º CONGRESSO DO SINPEEM

No dia 01/11 encerrou-se o 33º Congresso do SINPEEM. Aproximadamente 4 mil delegados, representantes escolhidos em suas escolas, passaram 4 dias em um evento de caráter festivo, com propósito “distracionista”, relegando seu verdadeiro objetivo - o debate político e a organização dos trabalhadores - a um mero e incômodo detalhe diante de uma infinidade de atividades culturais, shows, barracas de compras e salas de massagem.

O cenário político que se configurou no evento foi aquele por nós previsto após o fim do processo eleitoral para a direção do sindicato, no meio do ano passado. Uma rápida adaptação dos grupos da denominada “Oposição Unificada” que conquistaram cargos na direção, à direção dita “majoritária”.  

A burocracia do sindicato, após o fiasco de suas pretensões nas eleições municipais, teve a cooperação de diversos grupos de “oposição” que compõem a direção, para tratorar a discussão política e a necessária organização dos trabalhadores da educação para lutar contra os ataques que avançam sobre a classe.

À revelia das emendas inscritas ao texto referência, com os pouquíssimos caracteres permitidos, já no primeiro dia do evento todos os grupos da “Oposição Unificada” se reuniram a portas fechadas com a burocracia para apresentar um Plano de Lutas pronto, já acordado entre eles e sem discussão nenhuma com a base presente na plenária. Tentaram, em acordo com a direção burocrática, reduzir o tempo de fala da apresentação das correntes, um dos poucos momentos em que pode-se defender programa e teses sem precisar ter o texto da burocracia como “referência”. 

Nas defesas das emendas, correntes como Conspiração Socialista e Democracia e Luta no SINPEEM, cumpriram o papel próprio da burocracia, defendendo o SP Integral, e atacando com mentiras as propostas de discussão sobre a imediata efetivação das trabalhadoras terceirizadas das escolas, como ao vociferar a falácia de que seríamos contra o concurso público. 

Outras correntes mal se posicionaram, outrora auto-proclamadas “combativas” e/ou revolucionárias como Reviravolta na Educação, Vozes da Base e mesmo a Corrente Proletária, que não compõe a direção mas atuou o tempo todo pela construção do bloco da Oposição Unificada, intervieram timidamente e de fato se silenciaram perante as mentiras, distorções e ataques desmedidos de uma burocracia e de uma suposta Oposição Unificada reformista, perdidas politicamente e desesperadas por terem sido varridas nas eleições municipais. Tentam se posicionar à esquerda no bloco dirigente, mas rapidamente são incorporadas à política da direção burocrática; formam agora, a exemplo da APEOESP, uma DIREÇÃO UNIFICADA.

É necessário também abrir um balanço sobre a atuação da corrente Nossa Classe, que diante dessa tendência já apontada por nós no último ano - de que esses grupos seriam absorvidos pela direção majoritária - ainda assim tentaram se manter próximos à Oposição Unificada até o último momento, tendo rachado pouco depois da convenção pré-eleitoral. Porém, na eleição, não se posicionou e neste Congresso, também sofreu com o silenciamento e burocratização da agora DIREÇÃO UNIFICADA. Contudo, novamente, absteve-se de denunciar a atuação dessas correntes. 

Diante desse cenário, que já era apontado há mais de um ano, a UICC - Unidade Independente, Classista e Combativa - apresentou a política correta de combate à burocratização do Congresso e da Oposição Unificada, se apresentando como Oposição de fato, utilizando todos os meios disponíveis para denunciar as traições, apresentar as políticas corretas, com independência de classe e sem medo das reações adversas, virulentas e embusteiras da burocracia e sua base, assim como de parte importante da Oposição Unificada, que fatalmente se seguiram.

Nossa proposição de atividades paralelas ao distracionismo corriqueiro, com debates políticos e organizacionais sobre sindicatos, privatizações, terceirizações, SP Integral e a proposta de escolas cívico-militares (que avança no estado e na prefeitura), foi de encontro aos ataques imediatos que sofremos por parte dos governos de turno e à necessidade dos sindicatos serem recuperados como importante instrumento para a organização da luta da classe trabalhadora, contra os ataques de QUALQUER GOVERNO e/ou patrão. 

Houve uma positiva recepção por uma parte da base que enxerga que reformistas e centristas já não podem responder às necessidades imediatas de organização da classe, e que esse caminho passa pela construção de uma oposição revolucionária dentro do sindicato, que preze pela independência de classe, e avance no debate político com seriedade, sem temer. 

Essa é a tarefa que se impõe após o 33º Congresso do SINPEEM e que as correntes que compõem a UICC - Oposição de Luta, Corrente Sindical Marxista Guilhermo Llora, FOB, OSL e os trabalhadores Independentes - assumem: o avanço na construção e consolidação dessa frente de oposição revolucionária, que denuncie e passe por cima do imobilismo dessa DIREÇÃO UNIFICADA, cada vez mais adaptada e incorporada às instâncias do estado burguês, para levar adiante, com os nossos métodos, a luta contra a privatização, a terceirização o arrocho salarial e a deterioração das nossas condições de trabalho.

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