Votar em branco ou nulo e organizar as nossas forças

Sábado, 17 Outubro 2020 19:35

Eleições na Bolívia

Votar em branco ou nulo e organizar as nossas forças

Em 18 de outubro, se votará na Bolívia um novo presidente. Isso ocorre quase um ano depois da renúncia de Evo Morales, em meio a processos agudos de luta de classes, no qual uma fração pequeno burguesa, aliada ao exército e à polícia pode, através da repressão, modificar a relação de forças, que se havia estabelecido com as massas após vários anos de governo do MAS.

Estas eleições são o ponto culminante de uma transição pactuada a sangue e fogo, como dissemos naquele momento, em meio aos acontecimentos da renúncia de Evo, já que foram os mecanismos de um semi-Estado burguês, os que se colocaram em marcha para forçar a renúncia à presidência e depois, via um acordo parlamentar com os destituídos, chamar novas eleições. Por isso, os que se apressaram a chamar a renúncia de Evo como um golpe, como fez grande parte da esquerda, não puderam sustentar sua caracterização seriamente, já que não foram os militares que tomaram o poder, não se fechou o Congresso, nem se anulou a Constituição, medidas centrais de um golpe.

Os acontecimentos mostraram o nível de decomposição de um semi-Estado e das frações de classe que defendem esse Estado, as mesmas que se enfrentaram para resolver suas diferenças e ver qual era a fração mais pró-imperialista e quem poderia garantir a melhor forma de dominação para os interesses de sua classe e o imperialismo.

É nesse marco histórico que se dá a crise política e social na Bolívia. As massas mostraram grande disposição de luta para não perder posições frente ao avanço de uma fração mais pró-imperialista, com os fechamentos de rua, as ocupações de fábricas e depósitos. Protagonizaram o enfrentamento contra a polícia e o exército, apesar de que as direções do movimento operário, como a COB, aceitavam uma saída dentro do regime. Estas ações são a demonstração de que os processos na Bolívia são parte das grandes lutas que vêm acontecendo em grande parte da América Latina. A transição pactuada e a pandemia fizeram que os fenômenos de luta de classes mais agudos fossem desviados, mas não derrotados.

Nessas eleições os candidatos com maior chance de vencer são Carlos Mesa, do Comunidad Ciudadana, Arce Catacora do MAS e Camacho do “Creemos”, depois que a atual presidenta Añez e outros candidatos se retiraram para que a formulação do MAS não ganhe no primeiro turno e, assim, forçar o segundo.

Algumas correntes de esquerda defendem o voto no MAS (como o PO da Argentina na FITU) outros chamam a organizar a vanguarda, mas sem um pronunciamento concreto nem campanha (como a LOR-CI, na FT). É uma demonstração de que se pode escrever e fazer eventos como a Conferência latino-americana, porém não conseguem omitir, na realidade, a adaptação à democracia burguesa e aos nacionalismos burgueses. Já demostraram a mesma tática quando chamaram o voto em Haddad do PT no Brasil.

Chamamos o voto em branco ou nulo, organizar as forças e nos prepararmos para o cenário pós-eleitoral, uma vez que, ganhe quem ganhar, deverá pactuar para atacar ainda mais a nossa classe e tentar recompor o semi-Estado. O voto em branco ou nulo pode expressar a independência de classes e a necessidade de organizar e desenvolver uma vanguarda, para lutar contra essa transição pactuada, levantando um programa que prepare os pré-requisitos para a destruição do semi-Estado. Temos que recuperar nossas organizações, como a COB, e incorporar os setores camponeses e indígenas nessa tarefa. Pelo controle operário dos hidrocarbonetos e do lítio! Por uma revolução agrária! Pela construção de um partido revolucionário como seção da IV Internacional reconstruída! Pela unidade revolucionária do proletariado latino-americano! Por uma Federação de Repúblicas Socialistas da América Latina, forma estatal da Ditadura do Proletariado!