ENCHENTES NO RS: “TRAGÉDIA” INTRÍNSECA AO CAPITALISMO

Domingo, 12 Mayo 2024 20:49

No final de Abril, o estado do Rio Grande do Sul foi acometido por uma das maiores tragédias da sua história: as cheias decorrentes de fortes chuvas que afetaram 441 municípios do estado e quase 2 milhões de pessoas, tendo deixado um saldo parcial de mais de 100 mortos e desaparecidos, além dos quase 400 feridos e 400 mil desalojados. Além disso, quase 1 milhão de pessoas estavam sem acesso à eletricidade, assim como seis barragens com o risco de se romper, tendo uma já se rompido parcialmente.

A catástrofe era prevista, visto que há anos já se sabia que, com a aceleração das mudanças climáticas, episódios climáticos extremos como secas e tempestades iriam ocorrer com muito mais frequência. O próprio estado do Rio Grande do Sul já vinha sofrendo tragédias mais reduzidas e localizadas, como em 2023, onde morreram 75 pessoas no estado em decorrência de eventos similares. 

Em todas as suas nuances, o evento está diretamente relacionado com o sistema de produção capitalista em crise. As mudanças climáticas, sem precedentes, estão relacionadas a urbanização e a industrialização desenfreada, e a destruição de áreas naturais para produção de matéria-prima e para exploração de fontes de energia. De uma perspectiva mais localizada, temos a atuação direta dos governos dentro da democracia burguesa, atuando para facilitar e otimizar o uso e a exploração predatórias do solo pelo agronegócio, a especulação imobiliária e a mineração. Só em 2019, foram 480 pontos de legislação ambiental que foram alterados pelo governador Eduardo Leite (PSDB).

Obviamente que as burguesias rural e urbana rapidamente conseguiram refúgio longe dali, diante da crise, restando aos trabalhadores pobres do campo e das cidades sofrer com o desabastecimento, a escassez de água potável e de energia elétrica, tendo de se arrastar pelas vias alagadas e pútridas em busca de um telhado para se abrigar. 

Agora, em meio a crise, surgem os oportunistas tentando capitalizar com a tragédia gaúcha. O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), e o governador do estado aparecem em frente às câmeras com coletes laranjas da defesa civil, buscando mostrar eficiência diante de um evento que deixará consequências graves e longevas para as condições de vida dos trabalhadores do estado, mas que nada fizeram para conter, pelo contrário, flexibilizaram a legislação, facilitaram a exploração dos territórios de várzea dos rios e lagos da região, que são parte da causa direta do problema. Mesmo Lula, que tem atuado intensamente no sentido de facilitar o fluxo de dinheiro para as medidas emergenciais, age calculadamente para não transformar o evento em seu “Katrina pessoal”, em alusão ao furacão que devastou o sul dos EUA e foi símbolo do descaso do Estado para com a população pobre da região.

O Estado agora tenta conter os danos, mas de fato, não podemos nos fiar nessa saída para os trabalhadores do sul. Os governos municipais, estadual e federal vão agir para que os lucros do agronegócio e da indústria gaúcha não sejam tão prejudicados, mesmo que seja às custas da demissão de trabalhadores ou de corte salarial, como é a política exigida por um grupo de empresários gaúchos ao Ministério do Trabalho, que está estudando a questão. Portanto, os trabalhadores não podem alimentar nenhuma confiança nas saídas apresentadas pelos governos ou na discussão sobre a gestão mais ou menos eficiente do estado burguês, feita pelo reformismo e pelas organizações centristas.

Devemos exigir que os sindicatos e organizações de trabalhadores se mobilizem para organizar o resgate, abrigo e a reconstrução dos lares afetados pelas enchentes. Precisamos nos organizar de forma independente do Estado, através da solidariedade de classe, se apropriando dos materiais e meios disponíveis e colocando-os à disposição de um plano de reconstrução sob controle dos trabalhadores. A tragédia no Rio Grande do Sul é a expressão máxima da decomposição de um Estado semicolonial e das suas instituições. Devemos, portanto, rejeitar as saídas que reforcem o papel dessas instituições e/ou eleitoreiras e avançar na organização para a destruição desse Estado.

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