Venezuela. Trump sonda seu “quintal”

Segunda, 01 Setembro 2025 20:09

O governo dos EUA enviou pelo menos cinco navios militares, um submarino nuclear e um bombardeiro, juntamente com aproximadamente 4.000 fuzileiros navais, para águas caribenhas perto da costa venezuelana. Apesar do tráfico de drogas estar concentrado no Pacífico, o governo Trump, por meio do Secretário de Estado Marco Rubio, acusou Maduro de ser o chefe do chamado "Cartel dos Sóis", justificando esse envio militar.

A oposição pró-imperialista venezuelana, liderada por María Corina Machado, faz lobby junto ao governo Trump para que ele promova a queda do regime e inicie uma "transição" que os colocaria à frente do no Palácio de Miraflores. Diante dessa demonstração militarista, lançaram campanhas internacionais de apoio à ação militar, conquistando o apoio de governos como Argentina e Equador, enquanto os governos do México e da Colômbia criticaram a ameaça de guerra.

O governo Maduro cerrou fileiras, entrincheirando suas tropas militares e convocando o alistamento de 4,5 milhões de milicianos para enfrentar uma possível invasão.

Este desdobramento militar dos EUA é uma continuação da política de imposição de tarifas com a qual busca resolver a crise de hegemonia ianque, como continuidade dos questionamentos sobre a ausência de disciplinamento em seu "quintal", aumentando a pressão sobre os diversos governos bonapartistas sui generis, estreitando as margens de negociação das sub-burguesias latino-americanas, ao mesmo tempo em que busca reduzir a influência comercial, especialmente a da China, e o controle dos recursos tanto da China quanto do imperialismo europeu.

A mobilização desse número de fuzileiros navais não seria suficiente para empreender uma invasão terrestre, que seria a primeira na América do Sul, com dificuldades muito maiores do que as vivenciadas no passado em diferentes contextos históricos na América Central (Panamá 1989, Guatemala 1954, Nicarágua 1912, etc.).

As intervenções militares ianques na América do Sul foram realizadas pelas próprias Forças Armadas ou por frações da oficialidade local, com as quais planejavam golpes ou processos contrarrevolucionários como o Plano Condor no Cone Sul, na década de 1970.

O objetivo imediato, tanto da oposição quanto do governo Trump, é subjugar as Forças Armadas venezuelanas, enfraquecer qualquer apoio regional e acelerar a ruptura de parte dele, conseguindo uma mudança de regime pela força. Há também rumores de que setores dentro do Pentágono poderiam estar planejando um atentado a bomba ou assassinato (com ou sem intervenção militar limitada) contra a liderança chavista, semelhante aos recentemente perpetrados por Israel contra líderes militares, políticos e científicos iranianos. Este último cenário é duvidoso — e de desfecho incerto — e poderia acelerar as crises dos semi-Estados na região, que são em parte sustentadas pela fachada de democracias burguesas decadentes.

Ao mesmo tempo, Trump, posando como um negociador sob pressão,  acordoucom o regime de Maduro há pouco mais de um mês em libertar venezuelanos deportados sem acusação ou julgamento das prisões de El Salvador e em reativar as licenças de produção da Chevron. Este é um objetivo fundamental do imperialismo americano e seus planos para manter a inflação sob controle, o que suas próprias políticas poderiam provocar, com abundantes suprimentos de petróleo e controle de rotas comerciais como o Canal do Panamá.

Embora a participação no alistamento da milícia venezuelana tenha sido massiva, está longe do apoio popular que Chávez obteve em 2002, que frustrou a tentativa de golpe de uma facção militar. A mesma decadência deste governo bonapartista, que buscou recorrer às massas para barganhar com o imperialismo, devido às ações corruptas do aparato burocrático militar, está severamente pressionada. Por outro lado, uma invasão terrestre estaria longe do tipo de louvor popular com bandeirinhas norte-americanas que um segmento significativo dos líderes da diáspora venezuelana almeja.

Embora a economia venezuelana tenha tido uma recuperação econômica modesta (em comparação com a crise de 2018-19), ela se baseou principalmente na entrada de dólares do mercado negro e na reativação da atividade petrolífera, sempre vinculada aos ditames da economia ianque, apesar do crescimento dos interesses e negócios com as protoburguesias russa e chinesa. Os níveis de pobreza, a queda dos salários, o aumento da inflação e o alto custo de vida e a recuperação de alguns setores, ainda que com salários pífios, apontam para a continuação da crise que a população atravessa.

Diante da agressão e ofensiva imperialista ianque, nós, revolucionários, devemos nos opor fervorosamente com a força de nossa classe, sem que isso signifique qualquer disciplina ao chavismo e à fração burguesa que ele representa. Devemos preparar a classe trabalhadora da região para resistir e derrotar qualquer tentativa ofensiva ou militar, bem como lutar pela expulsão do imperialismo, confrontando os governos da região que garantem seu domínio. Diante de uma tentativa militar, devemos recorrer à resistência armada, à formação de milícias operárias e à ocupação de todas as fábricas e centros de produção, impondo o controle operário sobre o petróleo e outros recursos.

A unidade da classe trabalhadora latino-americana será fundamental, assim como a ligação com a classe trabalhadora norte-americana que enfrenta as políticas de Trump, para boicotar a máquina de guerra e desafiar a burguesia pelo poder, no caminho para estabelecer governos operários e impor o poder dos trabalhadores por meio de uma federação de repúblicas socialistas nas Américas.

 

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