Cuba, mais uma vez na encruzilhada

Sexta, 16 Julho 2021 16:10

Para colocar fim ao bloqueio imperialista e derrotar a política de restauração capitalista do PC, é urgente a intervenção da classe operária de toda América

A erupção dos protestos em San Antonio de los Baños no último domingo, que se estendeu até Havana e outras cidades de Cuba, pegou de surpresa os desprevenidos. Começando pelos gusanos em Miami, que saíram pedindo a Joe Biden, a intervenção militar dos EUA, não só para aproveitar a crise, mas também assustados ao não ver uma direção clara dos protestos. Também pegam Biden focado em outros problemas, principalmente domésticos, e de política exterior: suas relações com a América Latina e Caribe (assassinato de Jovenel Moïse, presidente do Haiti) mostram grande desorientação. Pelo lado cubano, também o presidente Díaz Canel mostrou-se completamente desorientado, defendendo uma linha dura contra os protestos para ter que logo reconhecer os problemas que legitimamente reclamam os manifestantes, e chamando a um setor destes “revolucionários confusos”.

A confusão destas direções contrarrevolucionárias baseia-se em um elemento real: a desordem gerada pela pandemia em nível mundial. A falta de clareza do imperialismo para dirigir um processo de derrota fulminante das massas operárias, a partir do ensaio geral reacionário lançado no ano passado, abre todo tipo de processo político. No caso de Cuba, devemos considerar as dificuldades do processo de assimilação do ex-Estado Operário, que demonstra, como na Bielorrússia e outros países, tendências ao caos capitalista frente a debilidade da burocracia deste Estado para dirigir, acentuando este elemento pela própria debilidade da estrutura econômica da ilha. A decomposição imperialista dificulta a assimilação, mas não pode frear o processo ad eternum, senão que agrava a decomposição e as tendências ao enfrentamento entre as forças sociais presentes. Assim como vemos no Leste Europeu (Ucrânia, Bielorrússia, Geórgia), no Cáucaso (Nagorno-Karabakh), na China (Hong Kong), todos com suas particularidades, mas que estão determinadas por toda uma etapa histórica marcada por um processo de decomposição de um sistema social que solapa as bases dos Estados-nação como forma política. Tudo isso, como dizíamos acima, acelerando pela pandemia do Covid-19.

No caso de Cuba, é evidente como a pandemia golpeou as estruturas estatais já carcomidas por anos de putrefação após a queda da URSS e o início de uma transição tortuosa para a assimilação capitalista plena, onde a burocracia e uma base social ligadas ao Estado tenta manter sua posição, contra o setor que pretende varrer com essas estruturas com um programa que, mais que “pátria e vida”, se resume em “semicolonial”, se, 51º Estado yanque, melhor”. A falta de atenção médica, de alimentos e de eletricidade, também mostra sua silhueta hedionda contra a luz das reformas votadas no último congresso do PCC, que avançaram em uma desvalorização selvagem com a unificação dos tipos de câmbio. As condições de vida das massas trabalhadores contrastam com as mercadorias avaliadas em dólares, expostas nos negócios para turistas e nos privilégios da burocracia “comunista”. Estes elementos são o motor dos protestos, das que formam parte setores heterogêneos, que identificaram por anos as idéias do socialismo e do comunismo com um Estado que na realidade tenta impor com repressão a restauração capitalista. Mas está claro que o bloqueio do imperialismo ianque, imposto por décadas com o objetivo de pressionar a burocracia para que acelere as medidas restauracionistas (objetivo que cumpriu muito bem), é a principal das penúrias da classe operária cubana. Díaz Canel, Biden, o Partido Republicano e os gusanos estão todos de acordo em levar até o fim a contrarrevolução em Cuba.

É urgente a intervenção do proletariado de toda América

Para colaborar na tarefa de erguer uma direção revolucionária capaz de enfrentar as direções imperialistas e a burocracia do PC em Cuba, é necessário a intervenção do proletariado americano, na América Latina e no Caribe e nos EUA. Porque também é evidente, e se comprovou pela experiência histórica, que o programa da ditadura do proletariado não pode se concretizar nas estreitas fronteiras de nenhum país latino-americano, senão que adquire sua forma política na Federação de Repúblicas Socialistas da América Latina e do Caribe.

Para levar adiante esta tarefa, nós, revolucionários, devemos lutar no interior dos sindicatos para que a classe operária realize ações com objetivos claros: Abaixo o bloqueio imperialista! Principalmente nos EUA, devemos impor a abertura dos intercâmbios com a ilha, com nossos métodos, a ocupação sob controle operário de portos, depósitos e fábricas, a tomada do controle dos navios e o confisco operário para levar para Cuba os hidrocarbonetos, os alimentos e a medicina e vacinas que os trabalhadores e o povo pobre necessitam. Não à intervenção militar imperialista! Frente ao menor sinal de ameaça de levar adiante uma intervenção militar, defendemos a greve nos EUA e a paralisação e ocupação de todas as empresas capitalistas ianques na região. Abaixo a repressão da burocracia do PCC, liberdade aos presos! Devemos impor que os sindicatos latino-americanos e dos EUA se pronunciem pela liberdade dos lutadores socialistas que foram detidos no domingo 11/7, entre eles Frank García Hernández, Leonardo Romero Negrín, Maykel Gonzáles Vivero e Marcos Antonio Pérez Fernández.

Por uma direção revolucionária internacional

Distante do que defendem os centristas latino-americanos, não se trata de desenvolver um programa democrático para levar as massas para uma solução dentro do Estado (nacional) com reformas mais ou menos “radicais”. O capitalismo está em franca decomposição e não pode oferecer nada mais que repressão, em enfrentamentos cada vez mais abertos com a classe operária, para tentar modificar a seu favor a relação entre capital e trabalho com a intenção de ter uma sobrevida. A necessidade de uma direção revolucionária internacional, a IV Internacional reconstruída, se faz palpável e não pode ser uma simples declaração para os congressos e conferências partidárias. Temos pela frente a grande tarefa de preparar a reconstrução da IV levando os debates programáticos ao seio de nossa classe, dando política contra a burocracia sindical e lutando por recuperar os sindicatos. Propomos, com novo ênfase dado pelos acontecimentos em Cuba, organizar uma Conferência Latino-americana das correntes que reivindicam a ditadura do proletariado, para debater a política, as táticas e o programa para intervir na situação com esse objetivo. Como passo para uma conferência mundial que permita aos revolucionários encarar a tarefa do momento: começar a resolver a crise de direção revolucionária de nossa classe, a única classe revolucionária, a classe operária.

 

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