Realizou-se o II Congresso da TRQI
Segunda, 19 Junho 2023 18:25Nos dias 10 e 11 de junho, em São Paulo, Brasil, realizou-se o II Congresso da TRQI, com delegados do Chile, Argentina e Brasil. O Congresso discutiu o Projeto de Teses apresentado para o pré-congresso, que foi discutido pelo conjunto da militância dos diferentes grupos.
Debateu-se sobre a situação internacional e nossas tarefas como organização internacional. No informe de abertura das sessões defendeu-se uma análise de aproximação às tendências dominantes em nível mundial.
Estamos em um período histórico de decomposição imperialista e processos de assimilação dos ex-Estados Operários. A crise aberta pela guerra entre dois destes Estados, situação inédita na história, somada à crise econômica mundial e os processos pós-pandemia, coloca elementos de ruptura do equilíbrio instável. Isso pode ser corroborado no fato de que o imperialismo começou a implantar uma política belicista para assimilar os ex-Estados Operários, rediscutindo todos os pactos existentes no período anterior, para tentar resolver a crise aberta em 2008 e conter os efeitos catastróficos do desenvolvimento da pandemia da Covid. Esta política mais agressiva do imperialismo não é levada a cabo em seu momento de fortaleza, mas em seu momento de maior debilidade histórica, no qual o sistema capitalista em seu conjunto está em uma crise estrutural e suas formas de dominação em questionamento. A economia mundial se encaminha para uma recessão com elementos de depressão, com crise da dívida nas semicolônias e processos inflacionários em grande parte do planeta.
O desenvolvimento de um processo de luta de classes agudo na França e uma crise bancária em nível mundial, produto da quebra do Silicon Valley Bank nos EUA, que está arrastando outras instituições bancárias na Europa, como o Crédit Suisse, um dos bancos mais importantes da UE, mostram o nível da crise e que tentamos analisar no debate com os delegados do Congresso.
Para desenvolver ainda mais ao que nos referimos com decomposição do imperialismo, queremos dizer que as instituições criadas para sua dominação estão em crise e que essa crise não é só pelas políticas levadas a cabo nas disputas interimperialistas, senão produto também da luta de classes. Esta entendida como a luta pela mais valia e não como a entende o centrismo, que acredita que a luta de classes é algo que se desenvolve principalmente dentro das instituições. Esta é uma diferença importante, já que nós relacionamos a luta de classes com a produção e não com as relações de força nas instituições estatais.
A decomposição do imperialismo e sua dominação se expressa de forma histórica na organização das relações sociais como sistema capitalista, entendida a organização do capital como uma organização anárquica. É aí onde tem se entrado em uma contradição explosiva, já que não consegue que a relação capital-trabalho seja contida nas instituições criadas para sua dominação e não pode encontrar no processo histórico sua substituição por outra forma de dominação estatal burguesa. Este elemento também é expressão da crise quanto à criação de valor e sua relação com as atividades que agregam valor, ou seja, uma contradição na extração de mais valia que está complicando o processo de reprodução do capital.
Assistimos uma aceleração dos tempos, impulsionada pela política do imperialismo, na necessidade de assimilar os ex-Estados Operários e abrir novos mercados em meio a uma crise na organização do capital e suas instituições, como o Estado burguês, e sua forma de dominação por meio do bonapartismo.
A proliferação de movimentos sociais com relação indireta com a produção obriga a medidas de contenção por parte dos Estados para sua cooptação gerando crise dos regimes. Sua expressão mais importante é a crise dos partidos burgueses como instituições que mostram as tendências de um Estado, são manifestações da debilidade na dominação que está desenvolvendo a fase imperialista neste período.
A estatização dos sindicatos, como forma de organizar a relação com o movimento operário, está colapsando devido à expressão da crise e a pauperização das condições de vida, por isso nós dizemos que tentam ir a um novo pacto do capital e do trabalho, não sem processos de luta de classes com maior ingerência dos trabalhadores, como estamos vendo na Europa e nos EUA, com o novo fenômeno de sindicalização.
O processo de assimilação nos ex-Estados Operários não está concluído porque o capital ainda não consegue organizar as relações sociais para sua reprodução e é difícil que o consiga quando a maior contradição está ali em sua organização. Por isso observamos que as direções, tanto da China como da Rússia, tentam resolver esta contradição em seu processo de restauração. A Rússia, mediante uma saída militar e talvez catastrófica, e a China buscando uma assimilação econômica sem descartar o elemento militar.
Se separarmos a luta de classes da produção e sua relação com a organização do sistema capitalista, indefectivelmente colocaremos a luta de classes nas relações sociais impostas pelo capital e suas instituições.
Enfatizou-se as consequências do cenário de guerra e os processos que este produz no interior dos Estados e as relações de classe, uma situação convulsiva como a atual. Tentamos precisar a relação de um imperialismo em decomposição e o avanço da China em sua restauração capitalista e os possíveis cenários de reconfiguração das burguesias nativas em sua relação com estas potências.
Estes foram alguns dos eixos que discutimos no Congresso, na necessidade de consolidar a TRQI e sua direção para nos preparar na necessidade de dar a luta política às tendências que influenciam nossa classe e as tarefas dos revolucionários em um cenário de guerra e as consequências desta situação. Neste cenário, devemos intervir como tendência trotskista no interior do movimento centrista, que hoje está em crise e com rupturas. O que está em jogo neste período atual, e segue ainda vigente, é a crise de direção revolucionária. As tendências que foram formadas pela geração anterior dos trotskistas do pós-guerra, nas direções dos grupos centristas atuais, sem acertar contas com seus mestres como Mandel, Moreno, Lambert, para citar alguns, retomam suas revisões metodológicas e tentam reescrever a experiência histórica do proletariado degradando suas fases revolucionárias.
Por isso retomar os debates do programa e organização são primordiais neste período para a formação dos quadros internacionalistas da TRQI e as tarefas que se desprendem, na necessidade de avançar no embrião de uma nova direção revolucionária.
Depois do debate sobre a situação internacional, cada grupo realizou um informe de seu respectivo país e como estamos intervindo.
As Teses apresentadas ao Congresso foram votadas por unanimidade, uma nova direção e resoluções que permitam avançar nas tarefas colocadas. Entre elas, editar um novo número da revista internacional e reforçar o chamado a uma Conferência Internacional, com o objetivo de reconstrução da IV Internacional.