Trump e o agravamento da decadência imperialista

Quarta, 06 Novembro 2024 21:00

Eleições nos Estados Unidos

 

 

Na última terça-feira (05/11), foram realizadas as eleições presidenciais nos Estados Unidos. Com uma diferença maior do que o esperado, Trump foi declarado o novo presidente na manhã desta quarta-feira, derrotando Kamala Harris tanto em número de eleitores como em número de votações nominais. Kamala Harris tentou se descolar do governo Biden, recorrendo a posições reacionárias (não tão radicalizadas como as de Trump), mas isso não a ajudou muito. A grande maioria dos eleitores expressou que o saldo dos quatro anos de Biden foi negativo, principalmente a nível econômico. 

 

A política externa foi um elemento de peso, frente a um eleitorado relutante à guerra. Nestes últimos 4 anos, a administração democrata foi incapaz de dar uma orientação clara ao imperialismo ianque diante dos conflitos bélicos como o da Rússia-Ucrânia e o genocídio na Palestina por parte do enclave de Israel, o que demonstra a sua debilidade como potência imperialista. Enquanto Harris prometeu mais apoio à Ucrânia contra a Rússia, Trump conquistou simpatia ao propor que terminaria a guerra o mais rapidamente possível (o que resta saber se e como conseguirá isso). Trump também deu um forte apoio a Netanyahu, o qual o governo israelita interpreta como liberdade de ação para continuar com o genocídio palestino num momento em que este é altamente questionado tanto a nível interno como a nível global. O triunfo de Trump expressa a decadência imperialista, que não consegue encontrar direção nos objetivos imperialistas, ao mesmo tempo que condensa todas as contradições mundiais dentro do seu Estado.

 

O retorno de Trump ocorre em meio a uma crise geral do sistema capitalista na sua fase imperialista e na sua relação com as formas estatais de dominação burguesa. A democracia burguesa - e a sua relação com as massas - é uma das formas de dominação de classe que está sendo fortemente questionada, mas ao contrário do que foi o confronto revolucionário da Revolução Russa com o Estado burguês, neste caso o questionamento se dá através do avanço de setores mais reacionários. Esta “democracia”, que entrou em crise, surgiu como uma resposta da burguesia à competição com o sistema soviético. Assim surgiram, particularmente nos países imperialistas, os Estados de bem-estar social, que procuraram estatizar as organizações operárias e as massas trabalhadoras em geral, cooptando a aristocracia operária e assimilando uma grande parte da pequena burguesia através dos direitos civis. Nas semicolônias, foram feitas tentativas de imitá-las por meio de bonapartimos sui generis como uma forma especial de poder estatal. O curso dos últimos anos de crises económicas, políticas, da pandemia e de processos de assimilação dos ex-Estados operários, implicou em um ataque direto às formas estatais do pós-guerra sem conseguir encontrar outra forma de dominação que ofereça um certo equilíbrio instável ao sistema capitalista apodrecido.

A falência do progressismo

 

Neste processo, os que caíram em desgraça foram os supostos progressismos (estatistas, redistribucionistas, populistas, reformistas), que nada puderam fazer frente ao avanço da decomposição de todas as instituições burguesas, ansiando um Estado de bem-estar que já não retornará; e se negam a enfrentar o pauperização da pequena burguesia de uma forma revolucionária em aliança com os trabalhadores. 

 

A vitória dos republicanos fez entrar em pânico a UE e a OTAN, dado o seu possível desinteresse na guerra Rússia-Ucrânia e a linha de que os governos europeus devem assumir o comando do conflito. Este ponto foi fundamental nestas eleições, uma vez que o suposto progressismo mostrou a sua face mais bélica e a sua incapacidade de fornecer uma saída, a não ser maiores dificuldades para as massas.

 

Para a América Latina, é possível que as relações das burguesias nativas com o imperialismo norte-americano sejam reconfiguradas frente ao avanço da China na região. É possível que Trump favoreça figuras como Milei, em detrimento de outras como Lula ou Sheinbaum.

 

A vitória de Trump não trará nada de bom aos trabalhadores do mundo, nem Kamala o faria. O que está claro é que devemos nos organizar para enfrentar o imperialismo e que isto deve ser feito a nível internacional. Devemos fazer um chamado aos trabalhadores da América do Norte para romperem com as forças políticas imperialistas que dirigem o seu próprio Estado. 

 

Atualmente está se desenvolvendo um processo de sindicalização que deve ter como tarefa o confronto com o governo Trump e a interrupção da guerra, paralisando e bloqueando o arsenal bélico que os EUA enviam à Ucrânia e à Israel. Outra tarefa fundamental do proletariado norte-americano é unir-se ao proletariado russo e ucraniano para desenvolver uma guerra revolucionária que derrote a restauração capitalista em curso.

 

Devemos reconstruir a Quarta Internacional para estabelecer as diretrizes para uma luta unificada a nível mundial que enfrente a decomposição do imperialismo e o processo de assimilação dos ex-Estados Operários. Entre as suas tarefas está a unidade do proletariado norte-americano e chinês contra o imperialismo e contra a burocracia restauracionista do PC chinês. Não podemos permitir que Trump, com o seu protecionismo, desenvolva o chauvinismo nos trabalhadores (nativos e imigrantes) contra os trabalhadores de todo o mundo. Nossa classe é internacional e nosso inimigo também.

 

 

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