Acordo Israel-Hamas: uma trégua precária para um conflito histórico
Terça, 21 Janeiro 2025 16:39
No domingo, 19/01/25, as condições do acordo de cessar-fogo alcançado no Catar começaram a vigorar, após meses de negociações fracassadas, que consiste em três seções: entrega de reféns e libertação de detidos; retirada do exército israelense e reconstrução da Faixa de Gaza após os bombardeios.
Este acordo está por um fio, pois Netanyahu deixou claro que a qualquer momento o exército israelense pode continuar o genocídio sob qualquer desculpa. De fato, já está apontando a Cisjordânia como objetivo de novos ataques. Mesmo assim, o cessar-fogo foi celebrado pelo povo palestino, demonstrando mais uma vez a resistência histórica de um povo que luta contra a usurpação do seu território pelo enclave imperialista israelense. A trégua faz parte de uma política imperialista, tanto da administração Biden que se encerra, bem como da administração Trump que se inicia, para que não eclodam confrontos na região após as revoltas e a derrubada de Al Assad na Síria. Isto faz parte de uma política de guerra mais geral do imperialismo norte-americano, que está desenvolvendo uma guerra “por procuração” através da OTAN na frente ucraniana, para fechar frentes e concentrar forças num eventual enfrentamento mais direto com a China e os seus aliados. Faz parte do processo de assimilação dos ex-Estados operários liderados pelo imperialismo num momento de maior decomposição.
Outro elemento que o acordo Israel-Hamas mostra é a crise do regime governado por Netanyahu e as tendências incipientes para o surgimento de setores rebeldes fora da liderança burguesa do Hamas e da Autoridade Palestina, como se viu nos campos de refugiados em Jenin. Isto forçou a aceleração do acordo devido à fragilidade das direções em conflito. Por esta razão, sempre propusemos que a saída revolucionária para esta situação seja internacional. Para que a resistência palestina se desenvolva para expulsar o enclave de Israel do Médio Oriente, o proletariado internacional tem de agir com os seus próprios métodos, impedindo o fornecimento militar do imperialismo à Israel, enfrentando os governos que apoiam o enclave sionista em todo o mundo e, juntamente com o proletariado árabe, concentrado principalmente nas indústrias petrolíferas, abrem um processo revolucionário que culmina na Federação das Repúblicas Socialistas do Oriente Médio e do Magrebe. Nas atuais condições históricas, já não há possibilidade de soluções através da diplomacia burguesa como a proposta de “dois Estados”, nem soluções escalonadas como “uma Palestina secular, autodeterminada e democrática”, a dinâmica da decadência imperialista impõe-nos uma solução que implica retomar as experiências mais avançadas do século XX a partir das Federações Soviéticas dadas pela Revolução Russa, como expressão estatal da ditadura do proletariado internacional. Retomar as bandeiras do anti-imperialismo e não ter qualquer confiança nos bonapartismos sui-generis dos países árabes, que traíram a luta palestina e se subordinaram ao imperialismo, é uma tarefa central de uma liderança revolucionária. A elevação do programa da IV Internacional fornecerá diretrizes para a formação de uma organização com estas características.